«A intervenção do Projeto Sentidos passa por um trabalho de constância e permanência, persistência e confiança. Com o Sr. A. foi assim que se passou. Quando o conhecemos vivia num centro de alojamento temporário e pedia esmola à porta de uma igreja lisboeta. Todas as semanas passávamos por ele e conversávamos. Não permitia que aprofundássemos a sua história e situação de vida. A conversa centrava-se principalmente nos últimos êxitos e desaires futebolísticos do seu Benfica.

Ao fim de 18 meses, pediu-nos, pela primeira vez, ajuda para marcar consulta para uma cirurgia no Hospital. A consulta foi marcada, foi operado e, como não podia recuperar no Centro onde dormia, foi para outro local, mais pequeno, onde podia descansar melhor e onde a intervenção é mais individualizada. Descobriu entretanto ter diabetes, mas com o tempo foi aprendendo a cuidar de si. Através de um protocolo desse Centro com uma Junta de Freguesia, conseguiu ficar a trabalhar como jardineiro, trabalho de que aprendeu a gostar. Entretanto ficou desempregado e a receber subsídio de desemprego, mas está a viver sozinho num quarto, é apoiado na gestão do seu dinheiro e está bastante autónomo».

Mafalda Brandão, Projecto Sentidos (2012)
«Para a D. Hilária* cada dia é um recomeço. Posso até dizer que não conheço maior exemplo da palavra recomeço do que esta senhora nos seus 70 e poucos anos, para quem a vida é agora uma coleção de recordações guardadas no recanto da sua memória. A sua falta de vista já não lhe permite governar a vida de forma normal, pelo que passa os dias sentada na sua cadeirinha. O que pensa? Não sabemos bem. Talvez pense na vida ou talvez espere uma visita, um telefonema…

A primeira vez que conhecemos a D. Hilária, confrontámo-nos com uma vida vazia de esperança e cheia de solidão. Percebemos as lutas que esta senhora trava todos os dias, nas mais pequenas coisas, tal como ir a pé de uma das suas casinhas (onde está de dia) a outra das suas casas (onde dorme). Contudo, não pudemos deixar de reparar no sorriso que devagarinho começou a surgir depois de lhe pedirmos para falar da sua vida passada. Ou mesmo na pequena gargalhada quando nos explicava coisas que nenhum de nós, jovens de Lisboa, conhecia ou tinha sequer ouvido falar.

Aos poucos, fomos fazendo destas visitas uma paragem obrigatória. Precisávamos e continuamos a precisar de saber como a D. Hilária está a viver os seus pequenos recomeços. Foi por isso uma grande alegria para nós, na última visita que fizemos, termos sido logo recebidos pela nossa D. Hilária com um sorriso na cara».
*Nome fictício

Luísa Franco, Projeto de Alcoutim
«Ao longo de todos estes anos têm cumprido humanamente a tarefa de acompanhar uma faixa da nossa sociedade mais fragilizada, apoiando-a psicológica e socialmente, e transmitindo esperança renovada a cada nova visita. O Município de Alcoutim congratula-se com a presença do MSV no concelho e reitera a vontade de que a sua comparência continue a fazer parte do dia-a-dia da nossa população.»
Francisco Amaral, Ex-Presidente da Câmara Municipal de Alcoutim (2011)
«O MSV, que desde há catorze anos vem mantendo uma presença constante, permanente, esforçada no meio destas pessoas tão sós, estando presente nas suas vidas com uma juventude e um testemunho de humanidade e de fé admiráveis, tem sido para a paróquia de Alcoutim duma muito apreciada ajuda na manutenção da alegria, da fé, do amor fraterno e quase filial para com os doentes, anciãos e famílias por eles visitadas, no âmbito da ação pastoral da igreja local.»
Pe. Atalívio José Rito, ex-pároco de Alcoutim, Pereiro e Giões (2011)
«Quando cheguei aqui no Aquarela, eu era muito tímida, mas fui me acostumando ao ritmo das pessoas e fiz muitos amigos que até a minha timidez acabou. Agradeço a todos os meus educadores que aqui me ensinam a acreditar em mim e me animam a estudar, a ler, a escrever histórias, a minha história e ser ainda mais feliz.»
Mirian, Projeto Aquarela (2009)
«Quando recebi o convite para trabalhar no projeto fiquei muito feliz e percebi o quanto as pessoas aqui são amigas, carinhosas e prestativas. Hoje sinto que aqui é realmente uma família e entendo porque as crianças dizem: o Aquarela é uma casa fora de casa.»
Irene, Projeto Aquarela (2009)
«“Enche o nosso coração de ternura, para que não fiquemos indiferentes ante o problema Ajuda-nos a sermos melhores menos orgulhosos a menos agarrados às coisas materiais. Ajuda-nos a compreender que todos os Homens são irmãos filhos do mesmo Pai que és Tu. Ajuda-nos a ser esperança dos que nada esperam do seu próximo…”

Falar da pobreza pode-se tornar até perigoso pela banalização que este “assunto” sofre hoje em dia.
Toda a gente fala dela como um mal sem solução com o qual vamos aprendendo a viver.
Mas será certo, coerente ou necessário falar destas coisas ou, entre dois goles de uma cerveja, constatar que não-sei-quantos milhares de crianças morrem diariamente à fome e, depois desta brilhante observação, continuar sentado a beber o resto da cerveja… por toda a vida?
É por isso que eu tenho medo de falar de Pobreza…tenho medo de a banalizar mais ainda.
Tentando que isto não aconteça, vou falar daquilo que vi e senti em Barreiras (Nordeste Brasileiro).
Foram dois meses de contacto directo com essa pobreza que eu via na televisão ou de que falava enquanto bebia a minha imperial.
Ali tudo parecia agreste; pessoas como eu a viverem em condições que eu pensava nem sequer ser possível sobreviver.

Na Cascalheira, o bairro mais pobre da cidade, viviam cerca de 200 famílias. Cada uma tinha um “quadradinho” de terreno onde construía a sua barraca. As casas (de tijolo) podiam-se contar pelos dedos de uma mão; o resto eram barracas de barro, algumas estacas de madeira e plástico.
Dentro dessas “casas” viviam para cima de dez pessoas Desde o pai, a mãe, os filhos, os netos, os avós e sabe-se lá mais quem; todos partilhavam uma ou duas divisões com algumas camas ou colchões espalhados pelo chão.
Não foi difícil perceber que a pobreza material em que viviam, rapidamente se alastrava a uma miséria que abrange toda a integridade humana.
Como é que é possível pedir àquelas dezenas de crianças que brincam nuas na rua (com as quais me fartei de jogar à bola) que no dia de amanhã venham a ser homens íntegros e defensores de valores morais “aceitáveis” se nas suas casas não há o mínimo de privacidade? Todas elas assistem ao bom ou ao mau relacionamento entre o pai e a mãe; todos invadem a intimidade uns dos outros; todas vivem no meio do vício do álcool ou da droga e todas elas se habituam a ver aquele modo de vida como normal.
Por isso, o choque que sofri ao ter contacto com esta situação, não foi só quando vi que as pessoas não tinham uma casa decente, não foi só quando vi que tinham que fazer as necessidades na rua por não terem casa de banho, não foi só quando vi as crianças sem terem um único brinquedo, não foi “só” quando vi uma das crianças a morrer à fome… foi também pensar que será daquelas crianças quando forem homens.
É que quando os vemos na televisão, temos tendência a esquecê-los. Mas quando estamos no meio deles, quando entramos no seu mundo, quando sentimos o cheiro, quando passamos o dia com eles, vimos que são pessoas como nós, iguais a nós, que pensam, sentem e sofrem exactamente como nós.
Ao princípio tudo me parecia estranho, mas, à medida que os dias iam passando, eu sentia-me cada vez mais integrado, mais comprometido e mais identificado com aquelas pessoas que, de início me pareciam diferentes, mas que depois percebi que eram iguais a mim; mais: podia ser eu a viver naquela situação.
Então percebi como é bom ter uma casa e uma família a “sério” e como eu tantas vezes não lhes dou o devido valor; percebi que o mais importante não são as coisas que temos (ao ver que um simples papagaio de papel fazia a felicidade daquelas crianças) mas aquilo que somos e podemos ser para os outros, porque o melhor que temos é a vida.
Aprendi, enfim, que a Pobreza e a miséria do Mundo não se resolvem de um dia para o outro, mas que a solução está em cada um de nós, em pormos aquilo que temos e que somos, todos os dias – por pouco que pensemos que seja – ao serviço dos outros… ao Serviço da Vida.»

Miguel Siqueira d'Almeida, Co-fundador do MSV (1992)
«Queridos amigos,
Sejam muito bem-vindos à festa dos 25 anos do MSV!
Há alguns dias atrás, quando pensava no significado e na grandeza desta celebração, surgiram na minha memória e no meu coração imensos rostos, emoções e acontecimentos que conduziram o MSV até aqui.
Revisitei muitos lugares de profundo e verdadeiro encontro com Deus, de serviço autêntico e generoso, de fecunda e fraterna vida de comunidade. Uma história de Vida em abundância, construída e edificada por cada um daqueles que hoje, ontem ou há 25 anos, se entregaram das mais variadas formas ao Serviço da Vida: dos voluntários e dos colaboradores do MSV; dos que rezaram pelo MSV e pelos seus projetos; dos que orientaram espiritualmente o seu caminho; dos que contribuíram com donativos ou com qualquer outro apoio para que a sua missão fosse concretizada; de todos aqueles que o MSV tocou e marcou nestes 25 anos de vida em Barreiras, Montes Claros, Alcoutim, Pragal, Gradil, Príncipe ou Lisboa.
Por todas e por cada uma destas pessoas, muito obrigada!
Dá-nos Senhor a Tua bênção e, por interceção de Maria, ilumina todo o caminho que temos pela frente, alimentando o sonho e revestindo cada passo que dermos do Teu amor e da Tua vida!»
Madalena Vasconcelos, Presidente do MSV (2016)